quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

AMOS OZ


Hoje na Sábado escrevo sobre Entre Amigos, de Amos Oz (n. 1939). Ninguém melhor que o autor para nos contar o quotidiano de um kibutz. É isso que volta a fazer, de forma admirável, neste romance. Amos Oz é um israelita não alinhado com a actuação do Governo, uma voz incómoda para o establishment, defensor da solução dos “dois Estados”, um deles palestiniano. A vida de um kibutz é uma realidade que conhece bem: aos catorze anos, dois após o suicídio da mãe, foi para o kibutz de Hulda, modelo plausível para o Ykhat do livro. A acção das oito narrativas decorre nos anos 1950, os da fundação de Israel, uma era de contradições que o autor explora com detalhe e elegância. Problemas individuais vividos num caldo de cultura comunitária, de raiz marxista, tais como saber se a guarda nocturna de bebés deve caber aos pais ou a todos os membros do kibutz. Temas aparentemente “naturais”, como seja a crueldade dos pré-adolescentes, são descritos com nitidez gráfica. De certo modo, pode dizer-se que Entre Amigos é um bildungsroman, não de um personagem em particular, mas de uma comunidade unida por laços de sobrevivência. Cinco estrelas. Publicou a Dom Quixote.