quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

HARRY PARKER


Hoje na Sábado escrevo sobre Anatomia de um Soldado, de Harry Parker (n. 1983). Filho de um general britânico, o autor participou como oficial na campanha de 2009 no Afeganistão, tendo perdido as duas pernas: a esquerda no momento da explosão, e a direita por amputamento, já em Birmingham. Agora existe o romance onde narra a experiência de guerra. Anatomia de um Soldado é o seu primeiro livro e foi publicado este ano. O romance tem narradores peculiares como, por exemplo, uma mochila, um drone e uma cama de campanha desdobrável: «O meu número de stock da NATO é o 7105-99-383. Fui uma das primeiras a chegar à base.» Tom é referido como BA5799. Avanços e recuos no tempo ajudam a situar os acontecimentos. A prosa escorreita em pouco difere de uma reportagem jornalística de qualidade. A descrição minuciosa dos equipamentos e procedimentos transmite uma sensação de assepsia que anula por completo o pathos da história. O registo é intencional, podendo ler-se como forma de ironia “abstracta”. Não acontece todos os dias ver o conflito pela perspectiva de um drone. Parece-me evidente que Parker, não querendo dramatizar a situação pessoal numa obra de ficção, optou pela digressão reflexiva. Três estrelas. Publicou a Elsinore.