quinta-feira, 1 de outubro de 2015

RUBEM FONSECA


Hoje na Sábado escrevo sobre O Selvagem da Ópera, do brasileiro Rubem Fonseca (n. 1925), um gigante da língua portuguesa. Doze romances e dezoito colectâneas de contos fizeram dele um autor incontornável. O Selvagem da Ópera, obra de 1994, é o romance da vida de Antônio Carlos Gomes, autor de O Guarani, ópera de 1870 que reflecte como nenhuma outra a identidade do Brasil. Fonseca, mestre do thriller, da linguagem crua, do submundo do crime, de todo o tipo de disfunções, dos intrincados recessos da engenharia social, recua a Oitocentos para nos falar do compositor que, com o patrocínio de D. Pedro II, o imperador, foi alvo de discussão nos círculos musicais europeus a partir da sua estreia no Teatro Scala de Milão. Importa pouco se os acidentes biográficos “colam” à narrativa. Fonseca cruza ficção com reportagem para nos dar um quadro do trajecto do músico de Campinas nos anos do Império, triunfos e fracassos, intriga, reputações desfeitas, claqueurs a soldo, como na tumultuada estreia de Lohengrin, de Wagner, «cantada em italiano, e não em alemão», suspensa à terceira representação para suster a tranquibérnia. O Selvagem da Ópera terá sido escrito para servir de guião a um filme. Sem a força de Agosto, que segue o mesmo padrão, não deixa por isso de ser perfeito. Quatro estrelas.